A Náusea

Jean-Paul Sartre publicou o seu primeiro romance, precisamente "A Náusea", quando já tinha 33 anos. Não foi fácil. Simone de Beauvoir (o Castor da dedicatória) aconselhou-o a introduzir um pouco de suspense na trama e, graças à leitura de Céline, pôde dar vida literária às suas ideias. A Gallimard rejeitou o primeiro trabalho daquele professor de filosofia. Graças ao irmão de um dos seus alunos, que o recomendou, a Gallimard aceitou o romance numa segunda oportunidade, mas com a condição de mudar o título (chama-se "Melancolia") e de eliminar cinquenta páginas.
Embora "A Náusea" seja o primeiro romance de Jean-Paul Sartre, nele já se pode apreciar toda a complexidade da sua personalidade, todas as contradições e facetas que, posteriormente, desenvolveria nas restantes obras. Em "A Náusea" já existe o lado do existencialismo sartriano: "exister c'est être là, simplesment", que culminará teoricamente entre 'O Ser e o Nada'. Também no Roquentin historiador, que luta por dar sentido à vida do marquês Rollebon, detectamos o Sartre das Genet. E encontramos ainda a obsessão pelo o que é feio e pelo olhar dos outros.
Neste romance, a intenção de Sartre é dar uma categoria filosófica ao género romanesco e arrasar com os sistemas filosóficos da época.
Apesar de parecer um texto desordenado, é perfeitamente estruturado numa série de blocos temáticos: a aventura (a ficção), a experiência, a sociedado, o humanismo, etc. que preparam a grande revelação do Jardim Público, onde as coisas se libertam dos seus nomes.
A personagem principal, Roquentin, é feio e ruivo. Concebido por Sartre como uma caricatura de Descartes. é o herói existencial, o homem solitário, desenraizado e anónimo na grande cidade, corroído pela dúvida e pela consciência de existir num absurdo presente sem sentido. (Colecção Mil Folhas, #53)